[VIENA 2015, porque não?] Estónia


O PAÍS

Em 2004, numa viagem que fiz até ao norte da Europa, tive a oportunidade de conhecer um país muito calmo, com uma beleza simples e muito acolhedor. Pouco, ou nada conhecia deste país, apenas o nome da sua capital e que fazia parte da UE desde esse mesmo ano. Durante alguns dias percorri o país de autocarro, visitando algumas das suas cidades mais importantes. Corria o mês de agosto e apesar de estarmos em pleno verão, o calor não era muito, notava-se que estávamos perto do norte... do outro lado do Báltico estava a Finlândia.

Quando cheguei a Tallinn encontrei uma cidade medieval não muito grande, mas muito bela e bem conservada. As ruas quase desertas levavam-me rapidamente aos pontos turísticos e monumentos mais importantes. Apesar de ser uma capital, conseguia-se ouvir o som do vento e até dos pássaros! Quando caiu a noite tudo mudou, as ruas encheram-se de gente, a música surgia em todos os cantos, festas aconteciam um pouco por todo o lado, comemorava-se a Independência da Rússia que aconteceu a 20 de Agosto de 1991. No centro, numa das praças principais, todos os presentes visionavam um filme que era exibido na fachada dum edifício e que contava rapidamente a história deste país. Ao mesmo tempo, podia-se observar um relógio que mostrava o avanço da história até ao presente. E tudo acompanhado por música, que ia crescendo consoante o avanço mais rápido dos acontecimentos e do relógio, até culminar apoteoticamente com o dia da independência. Apesar de ser um turista, tudo aquilo que estava a ver não me deixou indiferente, senti um frio na barriga e uma alegria por estar a vivenciar aqueles festejos. A noite parecia não terminar com tanta agitação que contrastava com a calmaria do dia. Na noite seguinte a festa voltou às ruas e novamente toda a gente se passeava, dançava, bebia, mas agora já não se comemorava nada, era apenas uma noite de sábado. Excessos perdoavam-se, afinal era uma noite para a diversão, para descontrair e gozar, uma nova semana se avizinhava e tudo voltava à tranquilidade, ao normal daquela cidade e de muitas outras nórdicas, que enlouquecem apenas ao fim de semana. No dia seguinte, a cidade acordou de ressaca; rapidamente chegou a hora de a deixar para trás, um ferry esperava-me para me levar para Helsínquia.

Já dentro do barco, acompanhado por muitos finlandeses que dormitavam a festa e a bebida das noites loucas, olhei para trás, vi a velha cidade que descansava nas margens do Golfo da Finlândia, cansado, mas contente por conhecer um país tão próprio, tão simples, mas tão cheio de vida!

A Eesti Vabariik, ou a República da Estónia, situa-se na Europa Setentrional. É um dos três países bálticos, no norte encontra-se com o golfo da Finlândia que o separa da Finlândia, a sul faz fronteira com a Letónia, a oeste com o mar Báltico, que o separa da Suécia, e a leste encontra-se com a Rússia. Durante muitos séculos os estonianos viveram sobre o domínio de outros povos (Rússia, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Alemanha), o que influenciou a sua cultura. A noção de país começou a ser sentida apenas na segunda metade do século XIX, isto devido ao forte crescimento cultural, ao rápido crescimento da população urbana, decorrente da industrialização e da elevação do nível cultural da população. Desta forma, a união de povos da mesma origem acentuou-se e um espírito patriótico começou a invadir a região e a fazer sentido. Regressando a um passado mais longínquo, os primeiros povos a habitar esta região foram os éstios, povo nómada de origem fínica que viviam em tribos semi-organizadas, mas sem unidade. No século XIII, o Rei Valdemar II da Dinamarca, organizou uma cruzada para cristianizar as tribos pagãs do mar Báltico. A luta que se seguiu por quase 20 anos acabou por delimitar o território estoniano ao norte pela Dinamarca e ao sul por uma divisão entre vários bispados e a Ordem dos Livónios, uma poderosa ordem cristã que conseguiu derrotar todas as tribos locais e dominar a maior parte do território. As influências da Vestefália e da Livónia e o aumento do poderio militar dos vassalos da região levou à Revolta da Noite de São Jorge (1343), na qual os estonianos renunciaram ao cristianismo e lutaram contra a servidão dos nobres que os tratavam como servos. A Ordem Teutónica que comandava a Livónia, acabou com a revolta dois anos depois e adquiriu o território à Dinamarca. Em 1559, aconteceu a Guerra da Livónia, na qual lutaram dinamarqueses, suecos e poloneses, para obter o território da Livónia e conter o avanço russo. Quando os suecos dominaram a região norte, os poloneses a região sul e os dinamarqueses as ilhas do bispado de Ösel-Wiek, teve início outra guerra, a Guerra Nórdica dos Sete Anos (1563-1570). Aí consolidou-se o avanço e o subsequente domínio sueco na região, derrotados os russos em Narva, e conquistadas em 1629 as terras da Livónia, até então controladas pelos poloneses. Em 1645, após a nova derrocada da Dinamarca, os suecos dominaram o território da Estónia e com estes chegaram as primeiras escolas e a primeira universidade, em Tartu. No ano de 1700, a Grande Guerra do Norte, envolvendo a Dinamarca, a Polónia, a Rússia e a Saxónia, contra os suecos, que saíram derrotados afectou toda a região. Os russos venceram as tropas pessoais do Rei Carlos XII e conquistaram Tallinn, dominando finalmente a Estónia e a Livónia, desejo vinha desde a época do Czar Ivan IV. As evoluções na cultura da população e a sua própria valorização, juntamente com a inevitável queda do Império Russo, levou a que os estonianos se revoltassem (Revolução de 1905), revolta que foi fortemente reprimida pelo exército russo. Mas em 1917, uma nova revolução levou à independência e ao aparecimento da República da Estónia. Entre 1918 e 1940, a nova República viveu um período político conturbado, que culminou com a sua ocupação pela URSS em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1942, os alemães invadiram a União Soviética e começaram por conquistar a Estónia. Mas após o fracasso da invasão alemã à URSS e a sua saída da região, a integração no território soviético era uma certeza. Foi estabelecida então a República Socialista Soviética da Estónia, que durante 52 anos foi-se opondo a Moscovo, mas todos os movimentos de revolta e de guerrilha (o mais famoso o Metsavennad), foram eliminados. Em 1989, com a queda da União Soviética, a nova independência da Estónia estaria para breve, o que aconteceu em 1991.

O alto crescimento económico nos anos 2000, a entrada para a NATO e para a UE em 2004, assim como a introdução do EURO em 2011, consolidou o papel deste país na força europeia.

Este país báltico foi o berço de inúmeras personalidades que enalteceram as cores da sua bandeira no Mundo, tais como: Juhan Liiv (poeta de "I Saw Estonia Yesterday," "Snowflake," and "The Axe in the Forest"); Lydia Koidula (poeta do século XIX); Viivi Luik (poeta); Paul Eerik Rummo (poeta e politico, foi Ministro da População e dos Assuntos Étnicos); August Kitzberg (autor de comédias); Peeter Sauter (autor); Mihkel Mutt (escritor e jornalista); Hella Wuolijoki (escritora); Girsh Blumberg (cientista); Jaan Kross (escritor, a sua obra está traduzida em 20 línguas); Friedrich Reinhold Kreutzwald (autor da epopeia nacional – Kalevipoeg); Lennart Meri (escritor, realizador cinematográfico, diplomata e político); Johann Urb (actor – Zoolander, 1408, Resident Evil,…); Carmen Kass (modelo, supermodelo); Kerli Koiv (cantora e compositora, banda sonora da Alice No País das Maravilhas); Anne Veski (cantora Pop com 25 álbuns editados); Kaia Kanepi (jogadora de ténis); Andrus Veerpalu (esquiador medalhado); entre muitas outras.

PERCURSO NA EUROVISÃO

A sua caminhada eurovisiva começou em 1993, mas a sua primeira participação acabou por não passar na eliminatória que existiu antes do Festival, devido ao elevado número de participantes, Janika Sillamaa e a sua “Muretut meelt ja südametuld, não pisou o palco de Millstreet. Apenas em 1994, a Estónia conseguiu ter uma canção na final do ESC, Silvi Vrait e a sua “Nagu merelaine", terminou a noite no 24º lugar, o que fez com que no ano a seguir não participasse. Regressou em 1996 e nunca mais falhou uma edição. Venceu a edição de 2001 em Copenhaga, com a canção “Everybody”, do duo Tanel Padar & Dave Benton, ganhando também o direito de organizar a edição 47ª do concurso. Tallin recebeu pela primeira vez e única, até à data, uma edição do ESC. O país foi representado pela cantora Sahlene e a sua “Runaway”, conquistando um honroso 4º lugar.

Desde a introdução do sistema de Semifinal em 2004, a Estónia regressou à grande Final apenas em 2009, onde o grupo feminino Urban Symphony e a sua "Rändajad" brilharam e trouxeram de Moscovo um 6º lugar. Em 2010, voltou a ficar na semifinal, e entre 2011 e 2013 conseguiu sempre chegar à Final, mas apenas em 2012, a inesquecível "Kuula", do Ott Lempland, conseguiu conquistar mais um 6º lugar. Em 2014 e apesar de Tanja ter feito um brilharete com a enérgica canção “Amazing”, ficou-se pelo 12º lugar da sua semifinal, atrás da nossa Suzy.

Em caso de uma nova vitória, a Saku Suurhall, de Tallin, sede do ESC 2002, é a única arena no país preparada para receber o concurso nos moldes atuais.

E EM 2015?

Para 2015, a realização do Eesti Laul 2015 (Festival nacional) vai escolher a canção representante do país em Viena, as 20 canções escolhidas já foram anunciadas, analisando as propostas, destaquei as seguintes:

Elina Born – Cantora Pop, nascida em 1994, é muito famosa no seu país. Participou num concurso de talentos em 2012 e foi finalista. Em 2013 participa no Eesti laul, mas apesar de chegar à Final o seu “Enough” terminou em 8º. Regressa à edição 2015 para tentar ganhar, será desta?


Elephants From Neptune – Banda Rock criada em Võsu. Já atuou para plateias grandes e as suas composições têm bastante sucesso. São conhecidos em todos os países bálticos e na Finlândia. Estão a concurso no Eesti Laul 2015, com a canção “Unriddle me”.


NimmerSchmidt – Electropop duo formado em Tartu. Em 2014 tentaram representar o seu país, mas a canção “Sandra”, não conseguiu vencer. Este ano voltam a tentar e estão novamente no Eesti Laul. Caso a canção seja boa, porque não ir à próxima edição do ESC, mas o seu estilo alternativo poderá não lhes dar um bom resultado!


Daniel Levi – Banda Pop-Rock fundada em Tallinn, as suas canções são um sucesso, atingindo os milhares de visualizações na net, apesar da banda ser desconhecida, os seus membros são amigos há bastante tempo. Conseguiram o passe para o Eesti Laul 2015. A frescura, a boa imagem e a excelente sonoridade e voz, poderão chegar longe na Áustria.


Karl-Erik Taukar – É um cantor Pop-Rock nascido em 1989. Participou num programa de talentos e foi finalista, também participou no programa “A tua cara não me é estranha”, versão estoniana. Agora conseguiu chegar aos 20 escolhidos para o Eesti Laul 2015, com a canção “Päev korraga”.


Mas este país tem inúmeros cantores/grupos que deveriam tentar chegar à Eurovisão num futuro próximo, são eles:

Metsatöll
– Banda de Folk Metal surgida em 1998, em Tallinn. Senhores de um grande sucesso utilizam a flauta, assim como outros instrumentos tradicionais e inspiram-se nas guerras pela independência dos séculos XIII e XIV. A sua música um pouco dura poderia ser positiva para a Eurovisão, uma vez que iria cativar um público diferente, assim como diversificar o concurso.


Untsakad – Grupo de Folk e de Música Folclórica estoniana muito conhecido, surgiu em 1992 e até ao momento lançou inúmeros sucessos no seu país. A utilização de instrumentos tradicionais e as sonoridades típicas da região seriam uma mais valia, com uma boa aposta seriam certamente uma boa opção para o ESC.


Smilers – Banda de Rock e de Pop Rock formada em 1991, com algum sucesso no seu país. Seriam uma boa opção para o ESC. O concurso necessita de variedade nos géneros apresentados.


IIRIS – Liris Vesik, nasceu me 1991, em Tallinn. É uma compositora e cantora que utiliza os géneros Dream, POP e Rock Alternativo, com bastante sucesso na região. Vencedora de alguns prémios musicais, tentou já ir à eurovisão representar o seu país em 2008 e em 2010, ficando em 2º e em 4º respectivamente. Porque não voltar a tentar?


Mimicry – É uma banda composta por apenas um membro, o Paul Lepasson (membro actual). O Electro-Pop e o Synthpop marcam a diferença nesta banda. O sucesso é certo e já tentou por 3 vezes representar a Estónia na Eurovisão, nunca esteve perto de o conseguir, mas acho que seria interessante chegar ao ESC.


Ithaka Maria – É uma cantora Pop/Rock, nascida em 1979, em Tallinn. Participou em alguns concursos de talentos e tentou representar o seu país no ESC 2011, mas terminou em 5º na Final do Eesti Laul 2011. Muito bela e com uma boa voz, seria uma boa aposta para o Festival.


Grete Paia – Cantora Pop, nascida em 1995, em Kuressaare, ganhou sucesso ao participar no Eesti Laul 2013 chegando à Superfinal, mas perdendo depois no televoto, ficando em 2º. Futuramente deveria voltar a tentar chegar ao palco eurovisivo.


Kerli – Uma das cantoras e compositoras mais famosas deste país. Nasceu em 1987, em Elva, Tartumaa. Senhora de uma excelente voz e de uma imagem excêntrica. Participou na banda sonora do filme “Alice no País das Maravilhas”, com a canção “Tea Party”, assim como no Melodifestivalen 2003 e no Eurolaul 2004, mas não foi longe. Acredito que esta seria uma das melhores escolhas para representar a Estónia, quem sabe num futuro próximo, a Eurovisão agradecia!




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Fonte e Imagem: ESCPortugal; Vídeos: YOUTUBE

4 comentários:

  1. Parabens Paulo Morais, por este EXCELENTE artigo. Voce teve uma enorme capacidade receptiva em relaçao a magia da cidade de Tallinn. Mais uma vez parabens e obrigado!

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  2. parabens Paulo Morais pela capacidade que tens de dar a conhecer o país transporta-nos para lá muitos parabens muito boa escolha

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