[Entrevista] Miguel Majer: o tema é "Porto de Encontro"

Olá Miguel e Ricardo, parabéns pela vossa participação no Festival da Canção (FC2008).
Como é que receberam este convite por parte da RTP?

Com surpresa mas com vontade de aceitar o desafio que mais tarde viria a ser aceite.

Já passava pelos vossos planos uma participação no FC?
Não. Até porque estamos ainda numa fase inicial deste projecto que terá vida após o Festival. Estreámos recentemente em Pombal e na próxima 6ªF apresentamos o projecto pela 1ª vez em Lisboa, no Santiago Alquimista. Convidamos todos aqueles que estejam interessados em ver e ouvir “Lisboa não sejas Francesa” ao vivo, a estarem presentes.

O convite da RTP foi endereçado aos produtores Miguel Majer e Ricardo Santos ou visava convidar os Donna Maria?
Inicialmente falou-se nos Donna Maria mas a data da realização do Festival não permite à banda actuar nesse período. Os Donna Maria só actuarão a partir de Maio. Foi colocada como hipótese algum projecto que tivéssemos a sugerir como alternativa. Foi o que foi feito e aceite pela RTP. Pensamos que “Lisboa não sejas Francesa” é um projecto tão “credível” e com tanto potencial como os Donna Maria, e na generalidade terá traços em comum. O que é natural, pois somos os responsáveis por toda a Produção, arranjos e na sua maioria a composição dos Donna Maria. A “portugalidade” da interpretação vocal estará muito bem entregue à Joana Melo.

Lisboa não sejas francesa … como é que surgiu um nome, digamos, tão pouco comum?
Como disse anteriormente, a banda não foi criada para o Festival. O nosso espectáculo é uma homenagem à canção portuguesa e foi escolhido o nome de uma canção que sublinhasse esse conceito. Sabemos que para o Festival o nome poderá parecer bastante estranho, porque inclui uma referência à França e isso poderá levar algumas pessoas que, desconhecendo o facto de ser o título de uma canção celebrizada por Amália Rodrigues, tirem ilações erradas. Mesmo correndo o risco de sermos mal interpretados, foi nossa decisão não alterar o nome do projecto. Lembremos que Amália Rodrigues interpretou “Lisboa não sejas Francesa” em Paris e nada de mal lhe aconteceu… Quando escolhi o nome “Donna Maria” para o outro projecto, muitos acharam absurdo, a começar pelo próprio dono da nossa editora na altura…Há pouco tempo deu-nos os parabéns pela escolha do nome e hoje, já poucos estranham. Como diz o poeta, “primeiro estranha-se depois entranha-se”. Esperemos que assim seja. De qualquer maneira no caso de representarmos Portugal na Eurovisão, sabemos que teremos de explicar este nome muito bem explicadinho, mas até pode ser interessante e divertido e deste modo dar algum “tempo de antena” extra, à nossa canção. Em jeito de brincadeira, se a atenção que se dá a um nome de banda contasse para a vitoria, concerteza que já éramos vencedores antecipados.

Qual é o conceito musical subjacente à formação deste grupo?
Digamos que havia uma vontade grande da nossa parte (Miguel Majer e Ricardo Santos) de trabalhar com a Joana Melo. Desde a OT1 que fiquei fascinado com a voz e a presença da Joana. Talvez tendo como ponto de partida essa vontade, elaborámos um conceito que se define em poucas linhas. Criar um universo sonoro contemporâneo sem deixar para trás todo o legado que tantos outros artistas deixaram na música portuguesa. Juntamos a isso a voz “super portuguesa” e cheia de personalidade da Joana Melo. Digamos que já fazemos isso com os Donna Maria mas será diferente, pois as características da Joana Melo não são idênticas às da Marisa Pinto. A Joana tem um lado de música tradicional que não estávamos habituados a trabalhar mas que nos está a dar muito prazer faze-lo. Tem um timbre também ele diferente e muito personalizado. A Joana é Portugal de Norte a Sul e dos pés à cabeça. É um grande desafio produzir “Lisboa não sejas Francesa”, tendo a Joana como vocalista do projecto.

Quem tem seguido o percurso da Joana percebe que o “ambiente” Donna Maria tem algo que ver com ela. Lisboa não sejas francesa segue as pegadas do outro grupo, entretanto, famoso ou trata-se de algo substancialmente diferente?
Sem querer, respondi na pergunta anterior e na pergunta 3.

Este projecto foi construído em torno da Joana ou a ela foi a intérprete que encontrou para personificar este conceito?
Também respondido em parte na pergunta 5… Mas sendo o mais claro possível, foi construído tendo em linha de conta a personalidade artística e musical de todos os seus elementos, incluindo obviamente a da Joana Melo.

Do que tenho lido, fiquei com a ideia que este projecto tem pernas para andar mesmo após o dia 9 de Março. Estou a interpretar bem?
Nós pensamos que sim. Mesmo fora do contexto do Festival, tem suscitado muita curiosidade no público e também em alguns órgãos de comunicação social. Já temos uma agenda de concertos considerável para um projecto tão recente. O futuro o dirá, mas pensamos que faz todo o sentido “Lisboa não sejas Francesa” num curto espaço de tempo, conquistar o seu lugar ao sol, na música portuguesa.

Falemos agora de “O barco e a saudade”. Fala-nos de quê este tema?
A canção mudou de nome. Chama-se “Porto de Encontro”. Em termos de letra fala de uma mulher que espera a volta do seu homem que está desaparecido no mar. Neste caso não haverá drama nem fatalismo… ele volta e a historia tem um final feliz. Pode-se dizer que foi feita à medida da Joana Melo que apesar de “ter fado na voz”, não passa uma imagem de dramatismo desmesurado ou qualquer tipo de fatalismo que por vezes o fado nos oferece.

Que tipo de ambiente instrumental vamos encontrar? Há guitarra portuguesa neste barco? Instrumentos tradicionais?
Verbalizar “som” é algo bastante difícil. Deixemos a musica tocar… Mas na voz da Joana Melo, já estão incluídos alguns instrumentos tradicionais. Seria uma redundância “abusar” da sua utilização.

Tenho feito esta pergunta a quase todos os produtores porque, fruto dos tempos, parece ser um aspecto com uma importância crescente no desfecho final deste tipo de evento. Como é que idealizam a performance da Joana e restante grupo no palco? Já agora, quem vai acompanhar a jovem intérprete no palco do Teatro Camões?
A Joana Melo será ela própria. Não necessita de grandes instruções ou produções de imagem. Talvez apareça com um “visual” que nunca apareceu mas podem ter a certeza que a imagem e performance da Joana será algo muito autêntico. A grande diferença na sua imagem é que vamos ter “mais” Joana Melo do que nunca. Ela é uma figura fantástica em cima e fora do palco e cheia de personalidade, não necessita de “efeitos especiais”. Quanto aos músicos será uma formação específica para o Festival. Eu e o Ricardo não estaremos em palco desta vez. Optamos por estar apenas “por detrás” da canção.

Não sei se são espectadores assíduos do FC ou do ESC, mas devem ter na memória registos musicais deste certame. Há algum projecto eurovisivo ou do FC em que gostassem de ter participado?
Já assisti a vários e sou fã de varias canções e projectos do Festival mas sinceramente nenhum me daria tanto prazer e orgulho como “Lisboa não sejas Francesa”. Estamos muito satisfeitos com o que vamos apresentar.

Como é que tem sido a convivência com os restantes 9 projectos. Calculo que pacífica. Há algum que lhes desperte especial curiosidade?
Sinceramente embora saibamos quem vai participar, não estamos muito atentos ao que os outros produtores vão apresentar. Se calhar deveríamos estar, mas nunca foi essa a nossa forma de estar na música. O que nos interessa é sairmos no dia 9 de Março satisfeitos com o que “fizemos” e podem acreditar que essa não será uma tarefa fácil, pois somos perfeccionistas e obstinados no trabalho. No dia do Festival e nos ensaios ouviremos com todo o gosto as outras canções que por sinal, muitas delas têm vários amigos nossos na sua equipe de trabalho e que daqui lhes desejamos a maior sorte.

A posição #4 no alinhamento agradou-vos ou preferiam actuar mais para o fim do espectáculo?
Nós queremos apresentar uma proposta para representar Portugal na Eurovisão e ao mesmo tempo dar a conhecer ao grande público um projecto que se espera que venha a ter vida longa. O alinhamento não era nem é uma preocupação nossa.

O que é que seria para vocês um bom resultado neste FC? E um mau resultado?
Volto a dizer… Um “bom resultado” será irmos para casa satisfeitos com a nossa prestação. Só isso, é bastante difícil. Um “mau resultado” é irmos para casa insatisfeitos com alguma coisa que só nos aperceberíamos em directo no dia 9 de Março. Algo que se nos tenha “escapado” na produção ou na composição e que tivesse comprometido a prestação da Joana. Em relação à Joana, estamos completamente sossegados, pois sabemos que terá uma prestação fantástica. É uma cantora muito segura, apesar dos seus 23 anos. Mas o melhor resultado que poderíamos ter, era a vitoria da música portuguesa e que ganhasse uma canção que represente dignamente a canção portuguesa. Temos a certeza que existirão varias neste Festival mesmo antes de as ouvir.

Para finalizar … Os Donna Maria, juntamente com Rosa Negra e mais uns poucos nomes, eram/são um dos grupos mais desejados por parte dos fãs para representar Portugal. Será que um dia isso poderá acontecer?
Eu penso que sim. Não falo propriamente dos Donna Maria, pois esta entrevista é para falar sobre “Lisboa não sejas Francesas”, mas penso que poderá acontecer. Este Festival RTP da Canção 2008 tem alguns outsiders que em princípio, não se imaginariam no evento. Acho que o resultado da canção vencedora poderá responder melhor a esta pergunta do que eu… Talvez este Festival seja uma das ultimas oportunidade para “convencer” alguns artistas, músicos, compositores, produtores de enorme valor, que estão há muito tempo renitentes em participar. Nós, “Lisboa não sejas Francesa”, optamos por dar o nosso pequeno contributo e pensamos que não nos vamos arrepender. Preferimos participar do que ficar em casa a criticar. Vamos defender a nossa proposta para o Eurofestival, que sem falsas modéstias seria um óptima representação para Portugal. Nós acreditamos nisso.

Muito boa sorte, bom trabalho até dia 9 e obrigado pela vossa disponibilidade!

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