ESC Portugal à conversa com Jan van Dijck
O primeiro contacto directo de Jan van Dijck com a cena musical portuguesa, deu-se no final do ano de 1975. De férias de Natal em Portugal, assistiu à gravação e nascimento de canções como No Teu Poema, Os Lobos E Ninguém “ (ambas de autoria do José luís Tinoco), Onde É Que Tu Moras (autoria de Paulo de Carvalho) e Uma Flor De Verde Pinho (autoria de Manuel Alegre e música do José Niza), temas enviados para a selecção e aprovadas para serem interpretadas por Carlos do Carmo, no programa Uma Canção Para Europa, designação dada, no ano de 1976, ao Festival RTP da Canção.
É em 1985 que van Dijck chega ao Festival RTP da Canção, ainda que não fosse permitida a entrada de autores estrangeiros a concurso. Compõe Meu amor, minha dor, meu jardim, para a voz de Alexandra, mas devido a compromissos editoriais é Eduarda que defende a interpretação do tema e, para efeitos legais, assume a composição. Termina no 2º lugar, atrás de Adelaide Ferreira.
Em 1990 vence o Festival da Canção, com Sempre há sempre alguém, interpretado por Nucha, um tema que ficou na memória de todos até aos dias de hoje, e um dos projectos que conseguiu vingar. Aliás é esse um dos objectivos do produtor, sempre que apresenta um tema a concurso no Festival: dar seguimento a um projecto musical, caso tenha sucesso. Alguns, como Nucha ou Pedro Miguéis, conseguiram-no. Outros não tiveram capacidade para seguir em frente, como é o caso das Ouro, o projecto apresentado em 2010, com o tema Arco-iris dentro de mim.
"O projecto das Ouro não teve pernas para andar"
O insucesso desta proposta deve-se, na sua opinião, a vários factores. Em primeiro lugar à dificuldade de coordenar um grupo, em que é difícil manter a coesão e gerir vontades individuais. Por outro lado as indefinições por parte da RTP dificultaram a concepção da apresentação: apenas a dois dias do evento ficou definido, por exemplo, o grafismo de fundo, quando o guarda-roupa dos elementos em palco estava já pronto. E a conjugação dos tons pastel do vestuário com o colorido dos ecrãs led foi fatal para a transmissão televisiva. O som estava péssimo durante as primeiras actuações de cada espectáculo, prejudicando sobretudo a Nucha e as Ouro. Em todo o caso a actuação foi menos feliz, o que acabou por matar uma das canções favoritas.
Das 24 canções a concurso van Dijck revela que tinha os Homens da Luta como favorita e que, uma vez que nem esta nem a sua proposta chegaram à final, as suas preferências foram para É assim que as coisas são, dos The Agency, elogiando a força, o sentimento e a beleza da voz de João Pina, bem como para a canção que acabou por vencer o certame, Há dias assim, que é uma canção bonita, uma balada bem dentro do estilo das baladas apresentadas na Eurovisão.
"A RTP tem vergonha do seu Festival (da Canção)"
Relativamente ao Festival da Canção a opinião de Jan van Dijck é altamente crítica. Para ele os responsáveis pelo evento têm falta de visão, de interesse e não se querem esforçar. Sintomático deste estado de coisas é o facto de a proposta do produtor holandês, de editar um CD com as 24 canções de 2010, ter sido ostensivamente ignorada, sem direito a qualquer resposta.
E isto acontece com tudo o que esteja relacionado. Depois do Festival não acontece nada, não há promoção, não se volta a falar do cantor, não se volta a ouvir o tema, não se aproveitam as oportunidades. Provavelmente, como tem acontecido nos últimos anos, a RTP vai deixar a Filipa cair no esquecimento.
Para Jan van Dijck um modelo exemplar é o Melodifestivalen sueco, onde já teve oportunidade de estar por perto. Ali há renovação, não há preconceitos quanto a cantores ou estilos musicais, os favoritismos internos são inconsequentes e um cantor que se apresente sabe que, mesmo que não ganhe, tem visibilidade e sucesso garantidos.
Estes factores são parcialmente responsáveis pelo desinteresse quer das editoras nacionais, quer dos nomes mais reconhecidos do panorama português. Para as discográficas a participação no Festival não traz qualquer retorno. Para os cantores ou bandas, a visibilidade é reduzida e a hipótese de ver um intérprete com anos de carreira perder para um recém-chegado, famoso pela participação num concurso de talentos, que beneficia de uma popularidade exacerbada, é francamente desencorajador.
Mas mais grave é a desvalorização de tudo o que é português. Como se explica que uma artista como Mariza tenha sido obrigada a recorrer a uma editora holandesa para poder gravar? E qual o motivo de uma intérprete como Sara Tavares ser rejeitada pela sua editora portuguesa, para pouco depois ser aproveitada pela mesma editora holandesa e alcançar o reconhecimento internacional?
Para van Dijk artistas como Ana Moura, que já é reconhecida internacionalmente, ou os Deolinda, que estão em fase de internacionalização, seriam excelentes propostas portuguesas para a Eurovisão. Mas falta vontade e coragem, de todas as partes.
Também existem grandes valores portugueses, desconhecidos em Portugal, mas reconhecidos além-fronteiras. Um caso exemplar é o de Sandra Pires, portuguesa, nascida em Timor Leste, radicada na Áustria, onde tem conhecido enorme sucesso, chegando a ser convidada para interpretar o papel de Maria von Trapp, no musical Música no Coração.
“O Festival é a crónica de uma morte anunciada"
As perspectivas são negras, segundo Jan van Dijck, porque a RTP está a deixar morrer o Festival. Chega a sugerir que, uma vez que não há interesse em melhorar e inovar, talvez a organização devesse ser entregue a outra estação. Ou às organizações de fãs. Afinal são os fãs que conhecem a Eurovisão como ninguém, que vibram, que se dedicam, que sabem o que é preciso fazer.
Mas mesmo o Festival da Eurovisão não parece ter melhores perspectivas. Afinal depois dos ABBA e de Celine Dion nenhum cantor foi capaz de construir uma carreira sólida a nível internacional.
Quanto a 2010, e das canções que teve a oportunidade de ouvir, Jan van Dijck destaca a Suécia, a Bélgica, o Azerbaijão e a Turquia. Relativamente à proposta do seu país de origem, os Países Baixos, a avaliação é tudo menos positiva, mas acredita que Sha-La-Lie poderá ter um bom resultado, devido ao refrão orelhudo.
Apesar de tudo Jan van Dijck não se sente frustrado com os resultados, nem desmotivado com as dificuldades. E o mais certo é podermos voltar a testemunhar o seu empenho e talento num próximo Festival da Canção.
Foto: Jan van Dijck Facebook
É em 1985 que van Dijck chega ao Festival RTP da Canção, ainda que não fosse permitida a entrada de autores estrangeiros a concurso. Compõe Meu amor, minha dor, meu jardim, para a voz de Alexandra, mas devido a compromissos editoriais é Eduarda que defende a interpretação do tema e, para efeitos legais, assume a composição. Termina no 2º lugar, atrás de Adelaide Ferreira.
Em 1990 vence o Festival da Canção, com Sempre há sempre alguém, interpretado por Nucha, um tema que ficou na memória de todos até aos dias de hoje, e um dos projectos que conseguiu vingar. Aliás é esse um dos objectivos do produtor, sempre que apresenta um tema a concurso no Festival: dar seguimento a um projecto musical, caso tenha sucesso. Alguns, como Nucha ou Pedro Miguéis, conseguiram-no. Outros não tiveram capacidade para seguir em frente, como é o caso das Ouro, o projecto apresentado em 2010, com o tema Arco-iris dentro de mim.
"O projecto das Ouro não teve pernas para andar"
O insucesso desta proposta deve-se, na sua opinião, a vários factores. Em primeiro lugar à dificuldade de coordenar um grupo, em que é difícil manter a coesão e gerir vontades individuais. Por outro lado as indefinições por parte da RTP dificultaram a concepção da apresentação: apenas a dois dias do evento ficou definido, por exemplo, o grafismo de fundo, quando o guarda-roupa dos elementos em palco estava já pronto. E a conjugação dos tons pastel do vestuário com o colorido dos ecrãs led foi fatal para a transmissão televisiva. O som estava péssimo durante as primeiras actuações de cada espectáculo, prejudicando sobretudo a Nucha e as Ouro. Em todo o caso a actuação foi menos feliz, o que acabou por matar uma das canções favoritas.
Das 24 canções a concurso van Dijck revela que tinha os Homens da Luta como favorita e que, uma vez que nem esta nem a sua proposta chegaram à final, as suas preferências foram para É assim que as coisas são, dos The Agency, elogiando a força, o sentimento e a beleza da voz de João Pina, bem como para a canção que acabou por vencer o certame, Há dias assim, que é uma canção bonita, uma balada bem dentro do estilo das baladas apresentadas na Eurovisão.
"A RTP tem vergonha do seu Festival (da Canção)"
Relativamente ao Festival da Canção a opinião de Jan van Dijck é altamente crítica. Para ele os responsáveis pelo evento têm falta de visão, de interesse e não se querem esforçar. Sintomático deste estado de coisas é o facto de a proposta do produtor holandês, de editar um CD com as 24 canções de 2010, ter sido ostensivamente ignorada, sem direito a qualquer resposta.
E isto acontece com tudo o que esteja relacionado. Depois do Festival não acontece nada, não há promoção, não se volta a falar do cantor, não se volta a ouvir o tema, não se aproveitam as oportunidades. Provavelmente, como tem acontecido nos últimos anos, a RTP vai deixar a Filipa cair no esquecimento.
Para Jan van Dijck um modelo exemplar é o Melodifestivalen sueco, onde já teve oportunidade de estar por perto. Ali há renovação, não há preconceitos quanto a cantores ou estilos musicais, os favoritismos internos são inconsequentes e um cantor que se apresente sabe que, mesmo que não ganhe, tem visibilidade e sucesso garantidos.
Estes factores são parcialmente responsáveis pelo desinteresse quer das editoras nacionais, quer dos nomes mais reconhecidos do panorama português. Para as discográficas a participação no Festival não traz qualquer retorno. Para os cantores ou bandas, a visibilidade é reduzida e a hipótese de ver um intérprete com anos de carreira perder para um recém-chegado, famoso pela participação num concurso de talentos, que beneficia de uma popularidade exacerbada, é francamente desencorajador.
Mas mais grave é a desvalorização de tudo o que é português. Como se explica que uma artista como Mariza tenha sido obrigada a recorrer a uma editora holandesa para poder gravar? E qual o motivo de uma intérprete como Sara Tavares ser rejeitada pela sua editora portuguesa, para pouco depois ser aproveitada pela mesma editora holandesa e alcançar o reconhecimento internacional?
Para van Dijk artistas como Ana Moura, que já é reconhecida internacionalmente, ou os Deolinda, que estão em fase de internacionalização, seriam excelentes propostas portuguesas para a Eurovisão. Mas falta vontade e coragem, de todas as partes.
Também existem grandes valores portugueses, desconhecidos em Portugal, mas reconhecidos além-fronteiras. Um caso exemplar é o de Sandra Pires, portuguesa, nascida em Timor Leste, radicada na Áustria, onde tem conhecido enorme sucesso, chegando a ser convidada para interpretar o papel de Maria von Trapp, no musical Música no Coração.
“O Festival é a crónica de uma morte anunciada"
As perspectivas são negras, segundo Jan van Dijck, porque a RTP está a deixar morrer o Festival. Chega a sugerir que, uma vez que não há interesse em melhorar e inovar, talvez a organização devesse ser entregue a outra estação. Ou às organizações de fãs. Afinal são os fãs que conhecem a Eurovisão como ninguém, que vibram, que se dedicam, que sabem o que é preciso fazer.
Mas mesmo o Festival da Eurovisão não parece ter melhores perspectivas. Afinal depois dos ABBA e de Celine Dion nenhum cantor foi capaz de construir uma carreira sólida a nível internacional.
Quanto a 2010, e das canções que teve a oportunidade de ouvir, Jan van Dijck destaca a Suécia, a Bélgica, o Azerbaijão e a Turquia. Relativamente à proposta do seu país de origem, os Países Baixos, a avaliação é tudo menos positiva, mas acredita que Sha-La-Lie poderá ter um bom resultado, devido ao refrão orelhudo.
Apesar de tudo Jan van Dijck não se sente frustrado com os resultados, nem desmotivado com as dificuldades. E o mais certo é podermos voltar a testemunhar o seu empenho e talento num próximo Festival da Canção.
Foto: Jan van Dijck Facebook
É muito fácil criticar os outros, quando nao se consegue fazer uma canção à altura do ESC! Em 1990, a Nucha alcançou um dos piores lugares de sempre para Portugal no ESC graças a uma canção feita por este senhor; em 2008, o Alex Smith ate ficou em 2.º lugar no FC, mas graças ao seu sorriso lindo... porque a canção era, como todos sabemos, plágio da canção do Reino Unido 1997; em 2010, a cañção das Ouro era bonita mas as cantoras mal escolhidas por este senhor.
ResponderEliminarAntes de criticarmos os outros e a RTP, é preferivel olharmos para o espelho.
Além do mais, a rtp pode não fazer muito para promover o festival, mas este ano puxou dos bolsos e trouxe-nos um festival muito melhor, a anos luz, dos anteriores. com um palco ao estilo eurovisivo... faltou foi promoção, foi divulgar, foi deixar alguns preconceitos de lado. Este senhor se queria outro fundo para a cançao das ouro só tinha era de insistir. O problema é que ninguem se esforça... faz-se uma coisinha qualquer e pronto...
ResponderEliminarCaro anónimo, será eventualmente problema meu, mas estou a ter dificuldades em captar a pertinência do seu segundo comentário. No texto fica bem claro que o Jan van Dijck critica a RTP exactamente porque o que "faltou foi promoção, foi divulgar, foi deixar alguns preconceitos de lado"...
ResponderEliminarQuanto aos grafismos de fundo as queixas vêm de várias das equipas concorrentes. E não se limitam ao grafismo. Estendem-se à utilização de qualquer tipo de elemento cénico, e não valeu de muito a insistência. pena é que não tenha havido mais gente com frontalidade para denunciar este estado de coisas.
Sabe, antes de criticarmos os outros é preferível estar informado. Ou corremos o risco de ficar a falar para o espelho.
Sem querer defender o anónimo, digo apenas que os telespectadores não têm a sorte (ou talvez o azar) de acompanhar as trapalhanças da RTP em relação aos cenários e não é assim tão nítido que as deficências sonoras se devam à produção ou ao desempenho dos concorrentes. Como muitos concorrentes já nos habituaram a foleirices (e não só no FC), ficamos com a sensação que é uma filosofia própria, assim bafiosa, em termos de gosto cénico, musical ou sonoro.
ResponderEliminarA única maneira que o cidadão comum tem para saber o que se passa é através dos meios de comunicação. Como é um evento da RTP, os outros, naturalmente, não fazem cobertura e o canal público não vai dar esse tipo de abébia para a opinião pública.
O ESCPORTUGAL com esta entrevista veio pôr o dedo na ferida, mas é muito pouco para que o espectador fique esclarecido, especialmente porque as críticas vêm de alguém, que apesar da categoria que tem, teve uma má prestação também por culpa própria. Alguém que atira na RTP e nas suas próprias intérpretes pode ser interpretado como desculpa de mau pagador. Não é o que eu penso, mas entendo quem assim possa pensar.
Pedro Correia@ a sua arrogância e a forma como responde aos seus leitores - que deviam merecer respeito da sua parte - sao sinonimo de uma pessoa que deve ser bastante solitária e infeliz.
ResponderEliminarCaro anónimo,
ResponderEliminarSe prefere interpretar como arrogância e desrespeito uma resposta que pretende ser directa, clara e incisiva está, obviamente, no seu direito. Já me vou habituando à escola de comentadores que lê o que lhe interessa e não o que está escrito.
Por outro lado não tenho por hábito recorrer ao ataque pessoal, à calúnia infundada ou à insinuação torpe. Se reparar bem a minha resposta é direccionada aos argumentos e está devidamente fundamentada.
Infelizmente não se pode dizer o mesmo dos comentadores anónimos deste artigo. Pelos meus critérios, comentários deste teor não têm lugar neste site mas, uma vez aprovados, ficam como testemunho do carácter dos seus autores.
Desrespeito e arrogância é chamar mentiroso e desonesto a outrem, desvalorizar as suas declarações, contrapondo com argumentos baseados na ignorância. Desrespeito e arrogância é sermos confrontados com o nossos erros, não os assumirmos e optar pelo ataque pessoal a quem no-los apontou, em vez de recorrer a argumentação lógica e educada.
Agora espero sinceramente, pelo meu respeito para com os leitores deste site, e sobretudo pelo seu respeito por si próprio, que possamos dar este assunto por encerrado.
Com os melhores cumprimentos,
Pedro Correia