[VIENA 2015, porque não?] Bélgica
Os famosos chocolates e bombons belgas, as batatas com maionese, as waffles, a cerveja e os mexilhões com batatas fritas são iguarias que na Bélgica têm um sabor muito diferente! Não podemos visitar este país sem degustarmos e deliciarmo-nos com estas delícias. Mas esta Monarquia Constitucional vai muito além da gastronomia, ou do seu Manneken Pis (estátua do menino a urinar), a sua multiculturalidade, a sua segurança, a sua riqueza histórica e a sua beleza simplista, fazem desta um bom destino para viver, ou para umas férias.
O Koninkrijk België, ou o Reino da Bélgica, encontra-se com a Holanda a norte, a este com a Alemanha, a sudeste com o Luxemburgo e a sudoeste com a França, o Mar do Norte banha toda a sua costa. Mas as suas fronteiras não são só físicas, a fronteira cultural entre a Europa germânica e a Europa latina está presente no seu território.
Toda a sua longa história esteve sempre ligada à dos seus vizinhos e apesar de ser habitada pelos belgas, muito antes da invasão romana (100 a.C.), apenas com esta começou a sua jornada histórica. Toda a região fazia parte da Gália Bélgica (província do Império Romano). Com as invasões dos francos, no século V, a Dinastia merovíngia dominou a zona até ao século VIII, durante o qual, uma mudança de poder deu origem ao Império Carolíngio. Em 843, os três netos de Carlos Magno através do Tratado de Verdum, dividem o império em Frância Ocidental, Frância Oriental e Lotaríngia. Os diversos feudos que surgiram tornaram-se na Idade Média, vassalos do rei da França, ou do Sacro Imperador Romano-Germânico. Nos séculos XIV e XV, muitos desses feudos estavam unidos nos Países Baixos Borgonheses. A região de Flandres ganhava agora uma grande importância para a “economia do mundo”, uma vez que se tornava num ponto de trocas comerciais. É claro que Portugal tinha grandes relações diretas e contínuas com este ponto comercial, chegando a ter até uma feitoria em Antuérpia, que era um prolongamento da Casa da Índia, para administrar o comércio e a distribuição dos produtos vindos do oriente na Europa.
Na década de 1540, o imperador Carlos V estendeu a união pessoal das Dezassete Províncias, tornando-se muito mais do que uma união pessoal pela Pragmática Sanção de 1549 e aumento da sua influência sobre o Principado-Bispado de Liège. A Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648) dividiu os Países Baixos entre as Províncias Unidas do Norte (Belgica Foederata) e dos Países Baixos do Norte (Belgica Regia). Os últimos foram sucessivamente governados pelos espanhóis e pelos Habsburgos austríacos e foram os precursores da Bélgica moderna. As guerras franco-espanhola e franco-austríaca, durante os séculos XVII e XVIII, aconteceram sempre nesta região. Com o surgimento da Primeira República Francesa, após as campanhas de 1794, nas guerras revolucionárias francesas, todo este território foi anexado e só voltou a integrar o Reino Unido dos Países Baixos em 1815, após a derrota de Napoleão.
A Independência aconteceu em 1830, com a denominada Revolução Belga, que levou à separação das províncias do sul dos Países Baixos e ao estabelecimento de uma Bélgica independente. A elevação de Leopoldo I ao cargo de rei (21 de Julho de 1831, celebrado actualmente como o Dia Nacional da Bélgica) fez nascer uma Monarquia Constitucional e uma Democracia Parlamentar com Parlamento Bicamaral, com uma constituição laica baseada no código Napoleônico. Em 1899, este país foi o primeiro da Europa a adoptar um sistema de voto proporcional.
Em 1885 e devido às grandes disputas das colónias africanas, foi realizada a famosa Conferência de Berlin, onde foi tratada a divisão de todo o Continente pelas grandes potências colonizadoras. A Bélgica estava entre outros a disputar alguns territórios e no final da conferência ficou com o Estado Livre do Congo. O seu domínio sobre esta colónia foi sempre muito criticado uma vez que tratavam a população congolesa como escravos. Para o Rei Leopoldo II o Congo não era mais nada do que uma fonte de lucro que produzia borracha e marfim. Em 1908, e após grande pressão internacional, este território passou a chamar-se de Congo Belga e o próprio Estado belga foi chamado à responsabilidade pelo governo do mesmo. Em 1914, como parte do Plano Schlieffen para atacar a França, a Alemanha invadiu a Bélgica, cometendo atrocidades terríveis. Uma parte dos combates na Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial ocorreram na parte ocidental do país. As colónias alemãs do Ruanda-Urundi (os atuais países Ruanda e Burundi) foram assumidas pela Bélgica durante a guerra e em 1924 a Liga das Nações entregou-as ao seu domínio. Após o final da Primeira Guerra Mundial, os distritos prussianos de Malmedy e Eupen foram incorporados pelos belgas em 1925, fazendo com que a presença de uma minoria de língua alemã se tornasse uma realidade. Com a II Grande Guerra, este país voltou a sofrer nas mãos dos alemães com a sua ocupação entre 1940 e 1944, ano da sua libertação pelos Aliados. Em 1960, o Congo Belga conseguiu a independência, dois anos depois o Ruanda-Burundi também se libertaram do poder belga.
A Bélgica foi um membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, ou NATO - 1949), formou o grupo Benelux com o Luxemburgo e os Países Baixos, assim como foi um dos seis membros fundadores da Comunidade do Cravão e do Aço (CECA, em 1951), da Comunidade Europeia da Energia Atómica (CEEA) e da Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1957. Estas comunidades foram fundidas em 1965 (Tratado de Fusão, ou de Bruxelas) e em 1992, com o Tratado de Maastricht, a CEE dá lugar à Comunidade Europeia (CE) e foi também criada a União Europeia (UE), lançando a CE como parte do 1º Pilar da União Europeia (3 pilares), eliminados após o tratado reformador (Tratado de Lisboa, 2007). Também em 1992 foram lançadas as bases para a criação do sistema de Moeda Única, inicialmente chamado de ECU e mais tarde de Euro, que entrou em circulação a 1 de Janeiro de 2002, para os respectivos países que integraram a Zona Euro. Por toda a sua atitude pioneira na fundação de grandes Organizações (NATO, EU), as principais instituições e administrações destas encontram-se sediadas no seu território, é o caso do Conselho da União Europeia, da Comissão Europeia e das sessões extraordinárias e das comissões do Parlamento Europeu.
Diversas personalidades tiveram a Bélgica como berço e com todos os seus contributos elevaram e ainda elevam o seu nome ao Mundo, foram elas: Hans Memling, Jan van Eick e Rogier van der Weyden (pintores da escola flamenga do século XV); Pieter Brueghel (pintor do século XVI); Anton van Dick, Jacob Jordaens e Pieter Paul Rubens (3 dos maiores pintores do século XVII); René Magritte (artista plástico surrealista do século XX); Antoine-Joseph Sax (inventor do saxofone em 1846); Jean Toots Thielemans e Jacques Brel (2 grandes nomes do Jazz do século XX); Jean-Baptiste Reinhardt (lendário guitarrista cigano); Maurice Maeterlinck (poeta e dramaturgo, vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 1911); Émile Verhaeren, Georges Simenon, Hendrik Conscience, Hugo Claus e Marguerite Yourcenar (escritores); Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé (Criador das Aventuras de Tintim); Pierre Culliford (criador dos Smurfs em 1958); Jean-Claude Van Damme (actor); André Delvaux, Stijn Coninx, Jean-Pierre e Luc Dardenne (Directores cinematográficos); Eddy Merckx (um dos maiores ciclistas de todos os tempos); Kim Clijsters e Justine Henan (tenistas); Jack Ickx (vencedor de inúmeros prémios na Fórmula 1); Hubert van Innis (desportista medalhado olímpico de arco e flecha); Robert van der Valle e Ulla Werbrouck (judocas); Frederik Deburghgraeve (atleta vencedor da medalha olímpica de ouro nos 100 m costas em Atlanta 1996); Diane von Furstenberg (fashion designer); Lara Sophie Katy Crokaert, conhecida como Lara Fabian (cantora); Dimitri Vegas (Dj); Maribel Pérez, conhecida como Belle Perez (cantora e compositora); entre muitas outras.
PERCURSO NA EUROVISÃO
Este país pioneiro em diversas áreas, também o foi no concurso da Eurovisão, participando nele desde a sua primeira edição, em 1956. Ausentou-se por três vezes (1994, 1997 e em 2001) e apenas conseguiu chegar ao 1.º lugar uma única vez, em 1986, com Sandra Kim e a sua "J'aime la vie". Conseguiu a medalha de prata por duas vezes (1978 e em 2003, com a super favorita “Sanomi” dos Urban Trad e a sua língua imaginária); Nunca conseguiu um terceiro lugar.
Em 2010 conseguiu o primeiro lugar na sua semifinal com a canção “Me and my guitar” de Tom Dice, mas na Grande Final este apenas conseguiu o 6.º lugar.
Desde a introdução do sistema semifinal, a sorte não tem brindado a Bélgica, apenas chegou à Final por duas vezes, em 2010 e em 2013. Ao longo das 56 participações ficou em último lugar por 8 vezes (1961, 1962, 1965, 1973, 1979, 1985, 1993 e 2000), duas das quais com um gordo 0 (1962 e 1965). Mas houve um último lugar que se tornou num fenómeno entre os fãs do concurso, o de 1993, não pela canção, mas pela cantora, a famosa Barbara Dex e a sua roupinha, que originou um prémio (Barbara Dex award), votado após o final de cada edição do ESC e entregue pelo Eurovisionhouse.nl. É um prémio que ninguém quer receber, uma vez que premeia o participante mais mal vestido do concurso. Existe desde 1997, e a representante belga de 2000, a Nathalie Sorce e o seu coro brilharam mais e conseguiram ser eleitos os mais mal vestidos do ano. Pessoalmente acho que não foi bem entregue, os representantes de Israel mereciam muito mais o troféu.
Em 2005, um cantor nascido no Porto representou as cores belgas no ESC em Kiev, Nuno Resende com a canção “Le grand soir”, não conseguiu chegar à Final, ficando em 22.º lugar da Semifinal.
O desejo de uma nova vitória ainda não esmoreceu. Bruxelas 1987 já vai longe; é tempo de uma vitória e em caso de um novo primeiro lugar, diversas arenas estão preparadas para receber o concurso atual, são elas: a Sportpaleis Antwerp, em Antuérpia; a Ethias Arena, em Hasselt; a Palais 12 e a Forest National em Bruxelas e a Flanders Expo, em Gante.
VIENA 2015... PORQUE NÃO?
Apesar de no ano passado, a final nacional belga (Eurosong 2014) ter sido um sucesso, o êxito do vencedor no concurso internacional não foi o esperado, o que levou a emissora deste ano, a RTBF, a escolher internamente para o ESC 2015. A escolha recaiu num finalista do The Voice Belgium, o jovem cantor Loïc Nottet. Que esperar desta aposta? Conseguirá chegar à Final de Viena? Tudo vai depender da canção, o cantor parece-me uma boa escolha.
E quem poderia também brilhar no palco de Viena no próximo ano?
Gotye – De seu nome Wouter De Backer, é um músico, cantor e compositor com um grande sucesso em todo o Mundo. Nascido em Bruges, em 1980, faz do Indie, do Pop e do Rock a base de toda a sua música. O seu trabalho seria certamente uma mais valia para o concurso e uma boa possibilidade para uma boa classificação.
Stromae – Nome artístico de Paul Van Haver, nascido em 1985, em Bruxelas. É um compositor e cantor com sucesso internacional. As suas canções hip hop, new beat e as novas batidas eletrónicas têm alcançado os tops um pouco por todo o mundo. A sua ida ao ESC seria excelente para alcançar um público mais jovem e modernizar o concurso. ESC 2016, Porque não?
Belle Perez – Nascida como Maribel Pérez, em Neerpelt, em 1976, é uma cantora Latino/Pop vencedora de inúmeros prémios na área da música, tentou já representar a Bélgica na Eurovisão, o mais perto que ficou foi em 2006 chegando ao 3.º lugar na final nacional. Uma aposta latina para representar este país, quem sabe?
Dimitri Vegas & Like Mike – São irmãos e dois grandes DJs belgas, ouvem-se um pouco por todas as discotecas da Europa. Eletro house e Rave são as suas preferências. Numa parceria com algum cantor seriam uma excelente aposta, moderna e produtiva, especialmente na evolução da própria Eurovisão.
Natalia – Cantora de R&B, Pop, Rock, nascida em Westerlo, Flandres, em 1980, conta já com 6 álbuns editados e inúmeros sucessos. Vencedora de muitos prémios musicais, tentou já representar o seu país no ESC com a canção “Higher than the sun”, mas não conseguiu, deveria voltar a tentar, seria uma boa opção!
Sylver – Grupo de Eurodance criado em 2001 e com inúmeros sucessos a chegar a muitos tops espalhados pelo Mundo. Apesar de historicamente este estilo não ter muito sucesso a nível de classificação no ESC, seria interessante uma boa proposta pisar o palco eurovisivo.
Sandrine - Ficou conhecida pelo segundo lugar no Idols 2004, participou no Eurosong 2008, mas não venceu. Nascida em 1984 e senhora de uma voz excelente, seria certamente uma boa aposta para levar as cores belgas até ao ESC futuramente.
Katerine Avgoustakis – Nascida em 1983, em Maasmechelen, mas com raízes gregas (pai) é uma cantora Pop, Dance. Venceu o Star Academy em 2005 e tentou já ir à Eurovisão, mas nunca conseguiu. Alguns dos seus singles conseguiram alcançar os tops de alguns países.
Kate Ryan – Nasceu em Tessenderlo, em 1980 e é uma cantora Pop/Dance com sucesso mundial, algumas das suas canções tornaram-se hits, especialmente na Europa. Representou o seu país em 2006, em Atenas, mas aconteceu o que poucos imaginavam: não passou da Semifinal, apesar de ser uma das caras mais conhecidas da edição e uma das favoritas à vitória. Porque não voltar a tentar? Quem sabe num dueto com uma das suas amigas, a Hadise, ou a Soraya Arnelas?
Nailpin – Banda de Punkrock e Poppunk com uma existência quase meteórica, surgiram em 2003 e resolveram parar em 2009. Realizaram uma tournée no Japão e na Europa, com sucesso e sem ninguém contar terminaram. Porque não voltarem a juntar-se e fazer renascer a banda?
Lara Fabian - Quem não conhece uma das vozes mais fabulosas do mundo? Nascida em Etterbeek, em 1970, é uma cantora Pop com sucesso mundial, para além disso escreveu e compôs mais de 50 canções para os seus álbuns, coleciona inúmeros prémios na área da música e vendeu milhões em todo o Mundo. Representou o Luxemburgo em 1988 e ficou num honroso 4.º lugar e desde aí o sucesso não mais parou até aos dias de hoje. Porque não regressar ao concurso desta vez para representar a sua terra natal?
Hooverphonic – Trio formado em 1995, em Sint-Niklaas, que mistura música eletrónica com elementos de Pop, Trip-hop e ambiente. O seu estilo alternativo poderia fazer a diferença na Eurovisão.
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Fonte e Imagem: ESCPortugal; Vídeos: YOUTUBE
Excelente relato da Belgica, um país tão pequeno geograficamente mas com 3 regiões completamente diferentes entre si, ate na lingua. Sobre as porpostas, e apesar de já terem escolhido o cantor, há aqui muitas e boas propostas.
ResponderEliminarmais uma vez estas de parabens Paulo Morais pelo excelente trabalho
ResponderEliminarNão fazia ideia que o Gotye era belga @-)
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